Zuenir Ventura, ao escrever sobre o ano de 1968, conferiu ao livro o título “1968 - O ano que não terminou”. Sem dúvida, foi um ano muito marcante, com desdobramento nos dias atuais, como se percebe em temas como a reparação financeira às vítimas de tortura nos porões da ditadura militar e a possibilidade de responsabilizar juridicamente os torturadores.
[...]
O acervo do Rioprevidência Cultural guarda um grande número de fotos do final dos anos 60, tais como de inaugurações de agências, do prédio da Avenida Presidente Vargas, de ex-presidentes do instituto, entre outras. Estes registros retratam a grande atividade da previdência social do Estado, na época denominada como Instituto de Previdência do Estado da Guanabara – IPEG. Com agências na capital e no interior do Estado, o instituto era responsável pelo pagamento da pensão dos servidores municipais e estaduais, também fazendo empréstimos pessoais e mobiliários.
Durante o ano de 1968 intensificou-se a repressão aos opositores da Ditadura Militar instaurada em 1964. Para alguns destes, a luta armada era a melhor forma de combate à ditadura militar. Neste contexto, a guerrilha urbana era encarada como forma de adquirir recursos para financiar a luta. As principais ações eram assaltos a bancos e sequestros de agentes de governos e instituições que representavam o capital estrangeiro no Brasil.
Entre os casos famosos, vamos tratar do assalto ao carro que transportava valores para a agência do IPEG de Bento Ribeiro. A repartição ficava na Rua Papari, quase esquina com a movimentada Rua João Vicente. Nesta agência, que atualmente não existe mais, havia considerável circulação financeira decorrente, em grande medida, do serviço de crédito.
Em 1968, o governador do Estado da Guanabara era Francisco Negrão de Lima, que não foi apoiado pelos militares. Sua eleição por via direta provocou reação por parte dos militares, acarretando o fim do pluripartidarismo. Já o Instituto Previdência do Estado da Guanabara estava sob o comando de João de Lima Pádua, que esteve à frente do instituto no período de fevereiro de 1966 a março de 1971. No que se refere à agência de Bento Ribeiro, seu responsável era o servidor Wanderley da Costa, sendo Adailton da Hora o tesoureiro-chefe – atualmente, ambos são aposentados do Rioprevidência.
Não temos a informação do que determinou que a agência de Bento Ribeiro - e não outra que também apresentasse considerável circulação financeira - fosse a escolhida, mas sabemos da intenção de realizar uma série de assaltos às agências do IPEG. Concluímos que atacar o Instituto de Previdência do Estado era uma forma de, em uma única ação, atacar o governo e expropriar recursos financeiros para a guerrilha.
O insucesso da ação do dia 8 novembro de 1968 na agência de Bento Ribeiro inviabilizou a continuação do projeto dos militantes de atacar outras agências. O assalto acabou em tiroteio, perseguição até a Praça XV e a incerteza quanto ao destino do dinheiro roubado, a vultosa quantia 123 milhões de Cruzeiros Novos.
Para o governo militar, havia uma certeza: o envolvimento do ex-deputado Carlos Marighella, figura importante na resistência ao regime militar, e de seu grupo nos ataques a bancos.
Para o IPEG, o episódio representou um escândalo repercutido nos jornais e revistas da época, não havendo resposta à pergunta crucial: Houve envolvimento de algum servidor no assalto, conforme noticiado em alguns jornais? Em nossa pesquisa não descobrimos evidências neste sentido. Buscamos, inclusive, o nome de Maria Magalhães Montepio Bezerra, a servidora citada pela imprensa na época, sem que houvesse encontrado qualquer registro.
Fazer parte de um fundo de pensão que participou de importantes momentos da história do Brasil é um privilégio de poucos. Conhecer a trajetória da previdência social no Estado do Rio de Janeiro, em seus 122 anos de existência, é reconhecer a luta contínua pela manutenção dos direitos sociais dos servidores, tarefa hoje desempenhada pelo Rioprevidência.
Para ver manchetes de jornais e revistas da época clique aqui.