
Mesada com cartão pré-pago pode ajudar na educação financeira dos seus filhos
16/10/2015
Cresce o número de crianças e adolescentes utilizando uma versão digital do tradicional cofre do porquinho. O mercado vem ampliando as opções de cartões pré-pagos para que pais ou responsáveis possam dar — e, sobretudo, controlar — a mesada dos filhos. O uso do produto, contudo, divide as opiniões de especialistas.
A favor pesa o fato de ser uma ferramenta eficiente de educação financeira, oferecendo segurança, praticidade e monitoramento de gastos. O revés vem da combinação do cartão com personagens infantis, como a Turma da Mônica, e de jogos eletrônicos, como Angry Birds.
Para Myrian Lund, professora dos MBAs da FGV-Rio, o pré-pago é eficaz para ensinar a fazer escolhas e gerir recursos:
— A mesada é o primeiro passo da educação financeira. Aos 12 anos, a criança ganha mais autonomia. É preciso sentar com ela, entender as despesas regulares e fechar o valor que ela vai receber. É como se fosse um salário, sobre o qual ela vai aprender a fazer escolhas.
O cartão é alimentado com um depósito regular. Atingido o limite, deixa de funcionar, embora possa receber mais recursos, se necessário. É um primo do cartão de débito, que permite saque em caixas automáticos, compras pela web e uso internacional. É opção para viajar ou enviar recursos ao filho que mora em outra cidade. Há taxa de emissão e, dependendo do emissor, cobrança por serviços como saques.
O pulo do gato do “cartão mesada” está no sistema de controle de gastos. Pais e filhos têm acesso às operações efetuadas. Os dados chegam via SMS, internet ou aplicativos específicos para gerenciar o uso do dinheiro e criar metas para poupar.
Madeleine Soares, professora de ioga, optou pelo cartão pré-pago ao estabelecer a mesada do filho Georges, de 14 anos:
— Antes ele recebia dinheiro conforme as necessidades que surgiam. Sem quantia definida, ele e nós, os pais, perdemos a noção dos gastos. Percebemos que ele precisa aprender a lidar com um orçamento determinado.
Cerca de 40% dos jovens do Brasil, diz José Coronel, diretor sênior de pré-pago da Visa para a América Latina, recebem mesada, ou seja, há um grande mercado para o plástico.
— O “cartão mesada” é uma adaptação à era digital. Permite aos pais participarem mais ativamente dos gastos diários dos filhos, ensinarem a administrar recursos, economizar — pondera Coronel, ressaltando que o foco do produto é claro. — O pré-pago prepara o caminho para que o jovem possa, depois, se integrar ao sistema financeiro.
Caso de Ana Luiza, 18 anos, filha da bancária Olga Menezes:
— Minha filha começou a usar o “cartão mesada” aos 17. Faz com que controle gastos, aprenda a fazer saques, acompanhe o saldo. Agora, ela já tem conta corrente e usa cartão de débito.
Globalmente, os cartões pré-pagos movimentam US$ 3 trilhões ao ano, diz Coronel. No Brasil, em 2013, o segmento totalizou R$ 117 bilhões em transações, segundo estudo da consultoria Boanerges & Cia., feito a pedido da Visa. A previsão é que, em 2023, a soma salte para R$ 431 bilhões. Nesses dez anos, os cartões de amplo uso — no qual se insere o da mesada — devem passar de R$ 7,5 bilhões para R$ 99,5 bilhões. Desse volume, a fatia do “porquinho eletrônico” passaria de 1% para 7%.
Nelson de Sousa, professor de Finanças do Ibmec/RJ, vê no limite do pré-pago uma de suas principais vantagens:
— Falta cultura em educação financeira, em estipular limites. Tudo é uma questão de escolha. A orientação e o acompanhamento dos pais são fundamentais nesse aprendizado.
A Acesso já conta com três “cartões mesada” associados a games: Angry Birds, MiniMundos e Habbo, todos com a bandeira MasterCard. São 140 mil plásticos ativos em um universo de 500 mil emitidos. A meta é fechar 2015 com 250 mil em uso. Os pré-pagos mesada têm carga mensal média de R$ 250.
Os bancos também estão nesse mercado. Marcelo Costa, gerente executivo da diretoria de Meios de Pagamento do Banco do Brasil, diz que o pré-pago é responsável pela primeira inclusão financeira do adolescente.
A Brasil Pré-Pagos (BPP), que lançou em junho, com a Visa e a Mauricio de Sousa Produções, o Mesada Turma da Mônica, tem um milhão de plásticos no mercado. Sua meta é que, nesse universo, os “cartões mesada” cheguem a cem mil, sendo 20 mil da Turma da Mônica, até o fim do ano, diz Paulo Della Volpe, presidente da empresa:
— Passamos um ano desenhando o produto, que privilegia o controle do pai e a educação financeira do filho. Para esses jovens, o mundo digital é uma realidade.
Rodrigo Paiva, diretor comercial da Mauricio de Sousa Produções, explica que a Turma da Mônica e a Visa oferecem ferramentas de educação financeira gratuitas, com orientações sobre como gerenciar o orçamento e entender o crédito.
Mas, para especialistas, a combinação de cartão eletrônico com personagens infantis acende a luz amarela. Vera Rita de Mello Ferreira, consultora e professora de psicologia econômica, frisa que a mesada depende da forma como a família vai ensinar a criança sobre o uso de recursos limitados, como água, tempo e dinheiro:
— É um aprendizado sobre fazer escolhas, ter limites, adiar decisões para atingir objetivos. A criança ainda não tem o nível de abstração de um adulto. E o cartão pode ser visto como brincadeira, um instrumento mágico, o que pode ter consequências negativas no aprendizado.
Laís Fontenelle, consultora do Instituto Alana, aponta que a associação com personagens infantis representa “uma estratégia de marketing muito sedutora":
— Trata-se de apelo direto à criança. Até os 12 anos, ela não tem capacidade de abstração de pensamento, é difícil lidar com dinheiro virtual.
Fonte: Jornal O Globo
Depoimentos
"Fiquei muito satisfeito com iniciativa de compartilhamento de conhecimento desenvolvido pela professora Olivia sobre o tema da alimentação adequada/ saudável."
Guilherme Gomes - Professor Aposentado - participante da Palestra: Aproveitamento Total dos Alimentos - da Teoria à Prática.